quinta-feira, 25 de novembro de 2010

ANTROPOFÁGICO (mini contos quase eróticos)



Uma surpresa foi o que prometi, dias imaginando o que poderia ser de fato tal surpresa, não o conhecia tão bem para lhe dar um presente, então sua mensagem “Tudo que é bom é ilegal, imoral ou engorda”, era o que precisava ...
A primeira coisa do kit surpresa que comprei foi a caixa de madeira que se abre em uma sequência de três movimentos, foi por acaso em uma feira de artesanato, pensando em sua frase minha cabeça fervilhou de ideias, e a palavra imoral, para mim está impreterivelmente ligada a sexo, aí foi só um passo e lá estava eu comprando vela e bolinhas num sex shop, não precisava mais.
Com os olhos cheios de mar, senti teu gosto, teu cheiro,o gosto da tua pele na minha língua, teus olhos percorriam meu corpo e eu me exibia.
Corpos besuntados de óleo da vela, aroma e sabor de chocolate, tudo da caixa de pandora, meu corpo tão completamente seu, desvendado, completo, é assim que sou pensei eu, assim completamente um animal, puro instinto... A cada novo gemido, a cada novo toque meu desejo só aumentava, queria você cada vez mais em todos os momentos, todos os lugares, na mesa, na varanda, na cozinha, orgasmos, risos, arrepios, cigarros, conversas e mais desejo, tudo outra vez, num ciclo vicioso de provocar e fazer rir. Queria-o tanto que pudesse o comeria ali mesmo como uma louva-Deus, sim comê-lo de fato, o que sentia era quase antropofágico. Teus olhos de menino, teu riso malandro, Tupã é assim que o chamarei.Cinco dias na terra do sol, que por sinal converteu-se em chuva, numa nuvem que eu mesma devo ter levado na mala, mas o calor que me era necessário eu tive, de Tupã.

ENCONTRO (mini contos quase eróticos)


Seu corpo branco, seus cílios quase transparentes, sua falta de pelos, essa descrição poderia ser de uma corpo delicado não fosse o fato de que é um homem grande, cabelos fartos, barba por fazer e tatuagens mau feitas, detalhe de uma adolescência rebelde e entorpecida.
Um quarto pequeno, tv ligada num canal qualquer, poucos móveis, alguns livros e textos. Você traz vinho, conversamos sobre coisa pesadas e leves, mas tudo dito e ouvido com muito bom humor e um toque de ironia.
Tenho pressa, gula, raiva, quase todos os pecados capitais (exeto a preguiça e avareza) quando estou só com um homem que desejo, tiro a taça de vinho de suas mãos e me sento em seu colo de frente para você, olho fundo nos teus olhos e começam longos beijos, você gira seu corpo para cima do meu deitando-me na cama, agora começa a parte que mais gosto. O duelo de corpos completos de desejo, os aromas, os sabores, a ânsia por prová-los todos. Mas você percebe meu pequeno grande desespero e ralenta, degustando cada centímetro do meu corpo, num suave dançar de língua e olhares e quando quase não aguento, ebulição.Pés, braços, gemidos, roupas pelo chão, o barulho da cama batendo na parede e logo também taças e a garrafa de vinho no chão, numa explosão de todos os ruídos que culminam no orgasmo.

Sexta Feira13



Sempre achei bobo isso de sextas feiras treze serem de ritos de horror, estes tipo cine trash.
O que esperar de um dia assim? Assassinatos, crueldades, festas a fantasia com sangue de groselha e teias de aranha artificiais? Opa! acho que isso é dia das bruxas... Que seja.
Nunca havia me acontecido nada de sombrio nesta data, mas 13 de agosto de 2010 sexta feira...
...Pés descalços, maltrapilho, alucinado, lábios rachados de crack, bolsas debaixo dos olhos, noite quente, cidade quente, solidão, angústia, desespero profundo, não sei o que você viu, o que pensou, imagino o que possa ter sentido, mas não sei, nunca saberei, ninguém saberá. Uma corda, uma árvore, nenhum pedido, nenhum abraço e assim você se foi, enforcado ao pé da árvore no centro da cidade de Sorriso-MT. Vi seu corpo três dias depois, em seu velório, tão magro, tão morto, irreconhecível! Beijei-lhe a face arroxeada pelo início do estado de putrefação, sinto ainda em meus lábios o gosto frio e húmido de sua carne, a marca profunda que a corda deixou em seu pescoço. Fingi ser forte, consolei sua mãe, sua avó, peguei em sua mão fria e dura, e num segundo me lembrei de nós andando de bicicletas novas, tomando sorvete, banho de rio, fiquei tonta, tive de sair da sala, fui até o quintal, cabeça baixa só via a grama e as raízes de uma árvore, não pude me conter mais caí num choro desesperado e fui ao chão num desespero absoluto, não queria acreditar, não podia acreditar, senti culpa, raiva, revolta, medo, saudades, muitas saudades. Você sempre foi tão calado, que eu acabei por me calar também e não lhe disse o quanto te amava. Hoje como que para tentar remediar o irremediável sussurro todas as noites antes de dormir o quanto te amo meu querido irmão.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Auto Análise


Sinto desejo de ter algo completo, mas estou em pedaços, vejo fragmentos para onde quer que eu olhe.
Sonho com campos repletos de corpos, e a terra, tinta de sangue está estéril, aguardando a vida que surgirá da putrefação dos corpos. Tudo há de morrer um dia assim como eu, mas...
Se sem amor, um homem não é nada, então sou nada, não sei no significado desta palavra, não de fato, tento fazer a coisa certa ser gentil, Cortez, tento sentir coisa boas e só desejar o bem, mas esta não sou eu...
Sou capaz de apreciar uma cena de morte violenta, ver fotos de cadáveres retalhados e enxergar ali, nada além de um amontoado de carne amorfa.Tenho vontade de deixar de existir as vezes, imagino uma lâmina cortando-me bem fundo os pulsos e o sangue descendo caudaloso até o chão, onde forma uma pequena poça. Esta idéia me acalma a ponto de me fazer desistir de executá-la não por medo, mas pelo fascínio que o sangue me causa.
A Fascinação e a calma tomam conta de mim tão completamente que penso “Hora de voltar ao trabalho”.
E lá está a minha linda e jovem presa, com seus grandes olhos assustados, amarrada a uma cadeira implorando piedade, mas como já disse eu não sou uma pessoa boa, eu não tenho amor.