terça-feira, 27 de maio de 2014

Abismo

Lembro-me dos olhos, verde e de grandes cílios que olhei profundamente, não houve sorrisos ou gestos, apenas magnetismo. Tão profundamente o olhei, já sabia o que estaria por vir. Quando depois de algumas horas falou comigo, aquela calma já me levara a pular sem ressalvas no abismo, apenas para deliciar-me na queda livre. O vi depois de alguns dias num parque, tão gentil e sereno como quem esconde em sí grande fúria e torpor, e foi exatamente isso que experienciei em sua cama, duelo, fúria, tesão. A cada novo encontro mais loucuras e desejos, força, sangue, risos, narciso brincando no espelho. Olhar em teus olhos é despir-se de tudo que finjo ser e me encarar com verdade, e isso assusta na mesma proporção que atrai. É uma cumplicidade estranha de quem só se entrega a sí. Estar contigo é olhar profundamente dentro de mim e enxergar a loucura e o gozo. Quando profundo me entrego e me atiro nos teus olhos de abismo, vem em meus pensamentos, ecoa em meu corpo e salta de meus olhos uma certeza, sou sua. E essa pequena frase me assusta, não pelo aprisionamento, mas pela absurda liberdade que me causa. Se não queres ser chamado, olhos lindos, por conta de tupã O chamarei de veneno ou abismo, para onde me lanço à morte certa com volúpia.

quarta-feira, 26 de março de 2014

VERÃO (mini contos quase eróticos)

Conheci E, por acaso, nos esbarramos literalmente na praia, ele de dread e grandes olhos verdes, conversamos e ele me apresentou seu amigo L com quem viajava da Argentina pelo litoral brasileiro a um ano, L era magro e alto, ambos muito sorridentes e jovens. Acabamos, nos encontrando mais vezes, conversávamos tomávamos cervejas e riamos. Dia qualquer, L me convidou para ir a sua casa, faria um prato típico argentino, fui. Na cozinha, eu L e E, conversamos muito sobre quase tudo, viagens, música, eles animados me davam dicas de que lugar eu deveria conhecer no Brasil, abrimos uma garrafa de licor de abacaxi e ao poucos bebemos toda ela nós três. Enquanto L termina nosso almoço, E se ofereceu para fazer massagem em meus pés, colocou uma cadeira frente a minha e começou a massagem, suas mãos firmes aliviavam minhas tensões, foi quando L se ofereceu para massagear minhas costas. A música agora era alta e de quase transe, fiquei sendo massageada pelos Hermanos por quase uma hora, aos poucos senti meu corpo se aquecer e o desejo me consumir em fogo do centro do corpo para as extremidades. L começou a massagear meus braços e mãos e debruçado sobre meus ombros ouvia sua respiração em meu ouvido, E massageava minhas pernas do tornozelo as coxas. Era um deleite inexplicável aquelas quatro mãos firmes massageando-me o corpo. Senti os lábios grossos de L tocarem de leve minha orelha e pescoço, sua respiração estava agora mais ofegante, a minha também, E com suas mãos firmes e precisas massageava a parte interna de minhas coxas, enquanto que com seus grandes olhos verdes me olhava com volúpia. Fechei os olhos afim de aproveitar tudo que o tato pudesse me proporcionar, nenhuma palavra foi dita e quando dei por mim, E já sorvia o líquido vertido de meu corpo pela excitação enquanto L beijava-me a nuca e mordiscava meus mamilos, quando E me penetrava forte, L me apertava, mordia e beijava e então trocavam, era um misto de ternura e força. Meu corpo agora explodia de excitação e prazer, beijos, línguas, cheiros, mãos, curvas, calor, dividimos e somamos tudo. Terminamos, abraçados e felizes, fomos sugados para dentro um do outro e devolvidos para o mundo transformados e cúmplices.

sábado, 8 de março de 2014

Sopro

Os uivos, o sibilar da cobra, os sons do profundo arrepio do medo, na insana alegria do gozo, simples assim, cheio de verdades e torto como sou é também meu desejo, meu amor. Quando voo como um anjo nas asas da minha imaginação, tudo acalma, abranda, ouço seu chamado e sigo, atravesso o Hades e te encontro sedutor e violento, como todo desejo é...

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

contato

Havia uma parede branca e sobre ela incidia a luz vinda de fora, uma luz branca acinzentada, como a luz da lua cheia passando pela janela. Na parede duas pessoas um homem de frente, sem camisa, e uma mulher de costas usando uma lingerie branca, seus cabelos eram negros e estavam presos num coque, desses de modo casual, seu corpo pendia para o lado e ia deslizando suavemente dos braços daquele homem e sendo passada a outros braços de outro homem, com um movimento contínuo e suave, ainda em queda, deslizando de um braço a outro numa sequencia de homens que a tomavam nos braços enquanto ela deslizava para outro até que por último, foi deslizada até o chão e dali girava em torno de seu próprio corpo, movimentos leves, contínuos até que parou por fim deitada olhando para o teto e via-se apenas a sua respiração que era rítmica e suave.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

O que sonho quando estou acordada

Estive num lugar estranho, começou num dia ensolarado a imagem que eu via era de uma porta branca de madeira nova com um vitral transparente e uma estrutura pequena no meio desta porta segurava um cristal que estava submerso em um líquido amarelo, não sei ao certo se o líquido ou o cristal é que eram amarelos, pela lateral da parede há muitas folhas de um jardim antigo mas cheio de folhas novas e viçosas, verde escuro, desprende-se um galho de uma trepadeira com folhas em formato mais arredondado no meio afinando-se na ponta, sigo para a lateral da casa rumo ao jardim, tudo me parece antigo demais porém fresco, cheio de viço, olhando para o meio daquela vegetação que é alta e quase que fecha-se em paredes de vários tons de verde e cores de flores de tamanhos e formatos diversos, creio ver criaturas feitas desta matéria, com contornos próximos ao contorno de corpos humanos, em princípio são só sombras, visões de relance, e há um sentimento agradável, De quase fábula infantil, mas aos poucos os contornos vão ficando mais delineados e uma figura que parece coberta por um arbusto com pequenas flores roxas, aparece mais visivelmente, a princípio me encanto, mas sua expressão não é amigável, ando um pouco mais por entre este jardim, passo por um corredor de cercas vivas, o dia é ensolarado e o lugar muito belo, ao fim deste corredor há uma cesta de vime, vejo apenas parte da cesta como se minha visão fizesse um zoom e um recorte da imagem, desta cesta envolta em panos claros em tons azulados há uma criança que não é bem uma criança, vira-se para mim e eu me assusto tem olhos negros e boca sem lábios, parece uma mistura de humano e cobra. Num segundo estou dentro do jardim de folhas verde escuro, e me enfio para dentro dele que vira um bosque, muito fechado de vegetação e árvores, no chão há uma formação quase que como areia movediça, mas, é feita de algo que me parecem grãos, o buraco começa a sugar-me dele saem mãos e braços feitos desta mesma matéria, passo por este lugar como se caísse em um saco cheio de grãos de soja, onde houvesse um furo no fundo, sou sugada e logo estou em outro lugar mais escuro ainda, tudo cinza, tento ver o céu, mas é só uma massa espessa de fumaça cinzenta, tudo é sombrio, vejo no fundo como se fosse um cume uma luz que poderia ser de uma fogueira, mas há apenas o reflexo amarelado da luz, a frente deste cume imagens de criaturas, creio que mulheres vestidas em panos escuros farrapos, um pouco lodosos até, quatro figuras, um galho de madeira e algo que poderia ser uma ave sobre ele. Bruxaria! Exclamo eu. Neste momento me dou conta de que isso pode ser uma viajem ao passado e de que eu pertencia a estes rituais era também uma bruxa, e não uma fada, era maléfica. Percebo que ali neste lugar escuro há outras criaturas, uma mulher especificamente que agora percebo está me mostrando o caminho me fazendo ter consciência de quem eu sou, de quem eu fui, eu a matei, percebo, e a vejo sem cabeça jogada no rio. Olho noutro canto e há várias outras criaturas torturadas, desfiguradas, queimadas, uma tem o corpo apenas até o quadril, está incandescente, como o ferro ao fundir-se e rasteja para dentro de uma fogueira, outras tantas estão indo para o mesmo lugar, nenhuma delas tem consciência de onde está, ou de quem é exceto essa que me mostra tudo, eu roubei isso delas, começo a chorar e quero lhes pedir desculpas, perdão, mas elas não me veem não me escutam, continuo chorando. Estou imediatamente em outro ligar uma biblioteca antiga, toda em tom ocre, uma mulher com uma capa escura mas não negra desce as escadas, não há saída as escadas só levam para baixo, tento voltar vejo num canto próximo a uma estante com um livro na mão um homem, que não é bem um homem, é barbudo e parece uma cabra, tem chifres e também é do mesmo tom ocre de toda a cena, quero sair dali, volto para o lugar cinzento de fumaça espessa no lugar do céu. A mulher, a que me mostra o caminho cai sem cabeça e nua no rio, rio estreito e cheio de curvas, mas algo nela se desprende deste corpo e aloja-se em minha costela do lado esquerdo, um pouco acima do quadril, uma borboleta azul anil, se desfaz e cai também no rio produzindo vários riscos azul neon, sobre o corpo e sobre as águas, quero sair, não consigo. Abro os olhos

domingo, 25 de dezembro de 2011

Segredado



Saio do meu próprio corpo através do orgasmo e sinto as lágrimas escorrerem sobre meu rosto, converso com ela que está em minha mente, digo que sei que ela me falou pra não chorar a solidão, pra que eu encontrasse alguém por quem valesse a pena permanecer. Sou torpe e sempre cometo os mesmos equívocos, ninguém é capaz de me libertar se nem eu mesmo o faço. Minha alma sensível e doce esta escondida em algum lugar dentro de mim e só se manifesta nestes meus momentos de extrema solidão, talvez por medo de que ao parecer sensível, pareça frágil demais, talvez por eu ter escondido tanto isso de mim que não sei voluntariamente como acessar.
Os olhos, as mãos, os outro sempre me atraem, mas nunca o suficiente para permanecer.
Na incredulidade da existência do amor busco o sexo como alento para meu corpo, vê que minha alma está absorta, vagueando etérea em mares distantes.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

TERMOSTATO


Sou eu termostato de mim, hoje dia cinza e chuvoso traz em seu ar gélido, nuvem carregada sobre meus olhos, pés gelados, pelos arrepiados, sentimentos adormecidos sempre retornam em dias assim. As despedidas, os desesperos, falta calor para aquecer meu corpo quase reptiliano. Sou um animal solitário no convívio com os demais por necessidades sociais. No anseio de não mais estar só, mergulho no mais profundo de mim e encontro água, muita água vertendo em lágrimas o que a boca, não sabe falar. O som da chuva num compasso com minha respiração são pura melancolia, meia luz, telefone, mudo, eu mudo e permaneço ...